Dentro de seis anos, o Brasil poderá se tornar autossuficiente na produção de radioisótopos. Esse é o tempo previsto para a entrada em operação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que será projetado e construído pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e beneficiará as áreas de saúde, indústria, agricultura, meio ambiente e geração de energia elétrica. O reator terá entre 20 MW e 50 MW de potência e demandará investimentos da ordem de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões.
O RMB produzirá radioisótopos utilizados, principalmente, na área de medicina nuclear, que realiza hoje 3,5 milhões de procedimentos anuais envolvendo radiofármacos. Entre os principais estão o molibdênio-99 e o iodo-131, empregados, respectivamente, em exames radiológicos e no tratamento de diversos tumores.
Segundo o superintendente do Ipen, Nilson Dias Vieira Junior, o RMB é essencial para a medicina nuclear brasileira. “Precisamos ter controle da produção do molibdênio-99 para podermos ter uma medicina nuclear confiável. Se não produzirmos esse radioisótopo aqui no Brasil, vamos depender sempre dos outros”, afirma.
O molibdênio-99, por decaimento, dá origem ao tecnécio-99, utilizado em mais de 80% dos exames de medicina nuclear. O Brasil consome em torno de 5% da produção mundial do radioisótopo, que é atendida por apenas quatro reatores instalados no Canadá, Holanda, Bélgica e África do Sul. “O problema é que, desde o final de 2008, existe uma crise mundial de produção desse radioisótopo, o que fez com que o preço aumentasse em cerca de 200%. Produzí-lo aqui no país representaria um passo muito grande para a medicina nuclear nacional”, explica o coordenador-técnico do projeto do RMB, José Augusto Perrotta, que também é diretor de Projetos Especiais do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo.
A iniciativa de construção do RMB é apoiada pela Sociedade Brasileira de Biologia, Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBBMN). Para o presidente da entidade, José Soares Junior, o governo federal precisa dar prioridade ao projeto e, principalmente, garantir os recursos necessários para a sua execução. “É muito importante que não haja atraso no cronograma de implantação do RMB”, alerta.
A SBBMN estima que, com a crise gerada pela parada do reator canadense, cerca de 5 mil pacientes por dia que fazem exames com o tecnécio-99 deixam de ser atendidos no país. Além disso, houve um aumento no preço do radiofármaco de até 70% para os serviços de medicina nuclear.
Retorno
O RMB irá substituir o reator IEA-R1 do Ipen, o principal do país, e que tem uma vida útil restante de 10 anos. Com potência de 5 MW, o IEA-R1 é o único dos quatro reatores de pesquisa em operação hoje no país com capacidade de produção de radioisótopos e irradiação de materiais, ainda que limitada. Já o RMB terá condição de ampliar significativamente a produção do IEA-R1, colocando o país no rumo da autossuficiência.
O investimento previsto para o projeto se pagará em vinte anos apenas com a produção de radioisótopos. “Este reator vai produzir um insumo que tem valor de mercado. E o retorno não será apenas financeiro. O RMB vai agregar pesquisadores que estão espalhados por instituições de todo o país. Além disso, este é um projeto de arraste tecnológico, que beneficiará todo o setor. Ele é estratégico, porque atende a áreas essenciais para o desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro”, afirma o diretor do Ipen.
Além da produção de radioisótopos, o reator também será utilizado na realização de testes de materiais e de combustível nuclear, o que é essencial para os reatores de potência da Eletronuclear e da Marinha, além do desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear pelas Indústrias Nucleares do Brasil (INB). Ele terá uso ainda na aplicação de feixes de nêutrons – em testes e caracterização de materiais biológicos, metálicos e poliméricos – e em análise por ativação com nêutrons – técnica usada para identificar elementos químicos em diversos tipos de amostras.
O RMB também será uma ferramenta para o treinamento de recursos humanos no setor, o que é de grande importância, levando-se em conta que a média de idade dos técnicos da área nuclear é alta. Na Cnen, por exemplo, ela fica em torno de 52 anos. “Se a intenção é que tenhamos um programa nuclear para os próximos 30 anos, temos que começar a investir agora. Um dos investimentos fundamentais é em um programa de reposição de pessoal qualificado que possa sustentar o PNB”, analisa Perrotta.
REVISTA BRASIL NUCLEAR, ANO 15, NÚMERO 35, p. 40
Link original: http://www.aben.com.br/html/topico.php?Cd_Revista_Topico=90
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