As múltiplas aplicações da energia nuclear vêm ganhando espaço em vários setores do país, seja na indústria, agricultura, meio ambiente, geração de energia elétrica ou na medicina. Da maneira como ocorre com qualquer fonte energética, a energia nuclear quando utilizada gera rejeitos, e por isso é fundamental gerenciar este material com competência, segurança e comprometimento.
Neste cenário, o Repositório de Rejeitos de Baixo e Médio Nível de Radiação (RBMN) é um projeto promissor cujo conceito de repositório de multibarreiras é reconhecido internacionalmente. As multibarreiras são absorvedoras ou retardadoras de radionuclídeos e isto não permite que a radiação chegue ao meio ambiente. As multibarreiras se ordenam da seguinte forma: primeiro, a solidificação dos rejeitos, a embalagem, depois o material de enchimento, geralmente argila por sua capacidade retentora, parede de concreto de alto desempenho (com alta resistência mecânica) e alta densidade e, por último, o próprio solo.
Antes de chegar ao repositório, os rejeitos são segregados conforme o tratamento que receberão. A segregação se dá por classes, entre sólidos, líquidos e gasosos; pelo radionuclídeo que possuem, iodo, tecnécio, outros; e pela atividade, baixa, média ou alta. Após, são solidificados.
Alguns rejeitos têm curta meia vida, ou seja, emitem radiação por pouco tempo. Logo, eles podem ser descartados como rejeito comum depois deste período.
O impacto ambiental causado pela construção de um repositório de rejeitos radioativos é pequeno se comparado ao impacto provocado por uma mineradora. Para este repositório estão previstos, ao longo de 60 anos, com sete centrais nucleares em atividade no país, 60 mil metros cúbicos de rejeitos, algo próximo ao que a mineradora produz em uma semana. Calcula-se que o RBMN ocupe a extensão territorial total de quase 22 hectares, considerando-se área de segurança e cercas, sendo que 3,6 hectares serão a área de deposição.
Ao redor do mundo, repositórios para rejeitos nucleares são realidade na Espanha, na França, onde estão os mais antigos, com 30 a 40 anos de atividade e na Inglaterra. Além dos já existentes, outros projetos foram iniciados em países como a Suécia, Finlândia, Hungria, República Tcheca e Lituânia. O Brasil conta com o repositório de Abadia de Goiás (GO), desde 1997, onde estão os rejeitos do acidente com o Césio-137.
Para cumprir o cronograma de atividade do projeto RBMN, a equipe envolvida dividiu-se em cinco grupos com especialistas de diversas áreas. O grupo de Inventário, para previsão da quantidade e tipo de rejeito; grupo de Seleção de Locais; grupo de Conceituação do Projeto; grupo de Análise de Segurança e outro de Legislação, Normalização e Licenciamento. A gerente nacional do RBMN, Dra. Clédola Cássia Oliveira de Tello é pesquisadora do CDTN. Atualmente, a equipe aguarda decisão sobre os possíveis locais para a construção do repositório. O termo de abertura do projeto já foi assinado pelo presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves em novembro de 2009.
Fonte: Fonte: CDTNuclear julho/agosto 2010 ano VIII nº 10