Arte: E. R. Paiva/IPEN
Atendendo à demanda da ONU, que propõe o combate ao vetor da zika, dengue e chikungunya, mosquitos machos serão expostos à radiação gama para se tornarem inférteis
Um novo método para tornar mosquitos machos inférteis por radiação nuclear pode ajudar a reduzir as populações do Aedes aegypti, transmissor de zika, dengue e chikungunya. Através da aplicação da Técnica do Inseto Estéril (TIE), um grupo de cientistas brasileiros vai avaliar os efeitos da radiação ionizante nas fases do ciclo evolutivo (ovo, larva, pupa e adultos) doAedes aegypti como um método alternativo de controle de manejo integrado dessa praga, declarada emergência de saúde pública internacional pela Organização Mundial da Saúde (OAS).
A pesquisa "Efeitos da radiação ionizante nas fases do ciclo evolutivo do Aedes aegyptivisando o seu controle através da TIE” será realizada no Laboratório de Radiobiologia e Ambiente, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), em Piracicaba/SP, e nos laboratórios do Centro de Tecnologia das Radiações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/CNEN-SP). O trabalho atende a uma demanda do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) visando diminuir a incidência das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
A técnica consiste em expor os machos do Aedes aegypti a raios-X ou gama e com isso tornar o esperma estéril. Esses mosquitos machos criados em laboratório poderiam, então, ser liberados para cruzar com as fêmeas da espécie cujos ovos nunca se desenvolveriam. Dessa maneira, reduz-se o número de insetos numa determinada área sem matar animais ou usar produtos químicos.
Após a irradiação, serão avaliadas as viabilidades dos ovos, larvas, pupas e adultos provenientes dos adultos emergidos em cada fase do ciclo evolutivo do inseto irradiado, para se determinar as doses letais e esterilizantes.
Os procedimentos de irradiação serão realizados em equipamento de raios-X modelo RS-2400V e em irradiadores gama de Cobalto-60 (Panorâmico, Gammacell e Multipropósito), também sob diferentes condições quanto à taxa e dose de radiação absorvida. Já a cultura do mosquito será mantida nas instalações do laboratório do CENA/USP, sob condições controladas pré-definidas.
De acordo com os pesquisadores Valter Arthur, do CENA, e Anna Lucia Casanas Haasis Villavicencio, do IPEN, a vantagem da TIE é que os mosquitos estéreis podem ser mais facilmente aceitos como alternativa de controle do Aedes aegypti.
"No controle com mosquitos transgênicos, por exemplo, os insetos morrem na fase de larva; no controle com mosquitos estéreis, a larva não chega eclodir dos ovos. Além disso, alguns países não aceitam a utilização de transgênicos, porque não se sabe o que poderá ocorrer com liberação massiva desses. Assim, a liberação de insetos estéreis é uma das alternativas mais viáveis de controle do Aedes aegypti”, justificam os pesquisadores.
Uma geração de mosquitos machos estéreis, que leva cerca de um mês para ser produzida, deve superar a quantidade dos mosquitos machos nativos – em 10 ou 20 vezes – para deixar uma marca na população do inseto. "Isso requer milhões de machos, tornando o método mais apto para vilas ou cidades do que para metrópoles”, disse, em entrevista coletiva, Aldo Malavasi, vice-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O projeto CENA-IPEN, apresentado em janeiro ao MCTI, foi orçado em aproximadamente R$ 500 mil, sendo R$242 mil para execução este ano e R$242 mil para 2017. Os recursos serão destinados à ampliação dos laboratórios, compra de matérias e cinco bolsas de Iniciação Científica. Além de Valter (coordenador) e Anna Lúcia, também integram a equipe os pesquisadores Thiago Mastrangelo, do CENA/USP, o doutorando André Ricardo Machi, do IPEN/USP, e Marcio A. Gava, da ASR/LAB, de São Carlos.
"Se o Brasil soltar um grande número de machos estéreis, levaria poucos meses para reduzir a população, mas isso tem que ser combinado com outros métodos", declarouMalavasi. Já está agendada para o dia 16 de fevereiro uma reunião entre autoridades brasileiras e especialistas da AIEA, que tem sede em Viena, para discutir como melhor implementar a TIE no país que é sede dos Jogos Olímpicos, em agosto deste ano.
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Ana Paula Freire, ACI-IPEN
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