quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Ipen e USP retomam projeto de uso de radiação para combater o Aedes

Projeto estava parado havia três anos por falta de financiamento. Com crise de zika e dengue, iniciativa deve receber R$ 500 mil.


Cientistas do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP (Cena), em Piracicaba, vão retomar um projeto de pesquisa que busca usar a radiação para combater o mosquito Aedes aegyti, transmissor dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Como funciona a técnica do inseto estéril?
A estratégia consiste em expor mosquitos machos na fase de pupa a uma dose controlada de radiação gama de uma fonte de Cobalto-60 dentro do laboratório. A radiação que deve ser suficiente para torná-los estéreis, mas não afetar sua capacidade de locomoção, expectativa de vida e capacidade de copular.
Ao soltar os mosquitos esterilizados no meio ambiente, eles devem competir com os machos selvagens pela cópula com as fêmeas. As fêmeas que copulam com o mosquito irradiado vão botar ovos dos quais não vão eclodir as larvas do mosquito. Dessa forma, a população total de mosquitos deve diminuir progressivamente, reduzindo também a transmissão dos vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.
Interrupção por falta de financiamento
Os pesquisadores tinham obtido sucesso com a técnica de esterilizar o Aedes aegypti com radiação já em 2012, quando os primeiros resultados foram apresentados no Congresso Brasileiro de Entomologia em Curitiba. Foi a primeira vez que o procedimento foi testado nessa espécie de mosquito no Brasil.
Os experimentos foram feitos só em laboratório, ou seja, os mosquitos não foram soltos no meio ambiente. "Na época, pedimos R$ 600 mil para equipar o laboratório e contratar mão de obra especializada para prosseguir com os testes, mas ninguém se habilitou a financiar o projeto”, diz o cientista Valter Arthur, professor do Cena-USP e do Ipen e um dos líderes do projeto.
Recentemente, segundo Arthur, o Ministério da Saúde manifestou interesse na técnica. "Já tínhamos o projeto pronto, então o submetemos novamente.” Agora, a iniciativa deve receber R$ 500 mil, metade do valor em 2016 e metade em 2017, para ampliar as instalações do laboratório e contratar bolsistas.
Agora, o grupo deve se preparar para ampliar a capacidade de produção do mosquito em laboratório e posteriormente esterilizá-los, além de definir os locais de soltura. O processo de irradiação será feita em equipamento de raios-X ou em irradiador de Cobalto-60. Os mosquitos serão criados em instalações do Cena-USP, em Piracicaba, e no Laboratório Analytical & Scientific Research, em Charqueada, também no interior de São Paulo. O ideal é que a quantidade de insetos soltos no ambiente seja na proporção de 10 para cada mosquito selvagem.
"Há anos se vem batalhando sobre essa necessidade. De repente, tudo mudou porque o problema doAedestomou esse vulto enorme e agora há uma corrida desenfreada”, diz a pesquisadora Anna Lucia Casanas Haasis Villavicencio, professora do Ipen que também faz parte do projeto.
Segurança
Arthur afirma que a soltura dos insetos irradiados é segura, já que os insetos não ficam com resíduo algum de radiação. "A população confunde insetos irradiados com insetos radioativos. São duas coisas diferentes.”
Anna Lucia conta que a técnica de irradiação em insetos já é bem consolidada no caso da mosca-das-frutas, por exemplo. "No vale do Rio São Francisco, já existe um trabalho com moscas irradiadas que eliminou a necessidade de agrotóxicos em plantações de frutas.”
O mosquito irradiado é classificado como controle biológico e sua soltura depende de uma aprovação do Ministério da Agricultura.
Outros mosquitos modificados
Já existemoutras técnicas em teste no Brasil que têm o objetivo de modificar o Aedes aegypti para diminuir a população total dos mosquitosou para torná-los incapazes de transmitir doenças. É o caso dos mosquitos geneticamente modificados produzidos pela empresa Oxitec e dos mosquitos com bactéria Wolbachia pesquisados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).


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