quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Estudos sobre epilepsia ganham fôlego na UFMG

Publicado em Tecnologia
27 de setembro de 2010

Professor Marco Aurélio Romano-Silva Foto: Chris Okamoto

Até o final do ano, a pesquisa no país relativa a extenso rol de doenças passará a contar com o suporte de novo espaço especializado: o Centro de Excelência em Imagem Molecular. Em fase de instalação na UFMG, em área de 320 metros quadrados no campus Saúde da UFMG, o Centro abrigará modelo de ponta de Tomógrafo por Emissão de Pósitrons (PET) e outro sistema de PET para pesquisas pré-clínicas com pequenos animais, localizado no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), no campus Pampulha. O núcleo também contará com radiofarmácia e softwares para aplicações neuropsiquiátricas, oncológicas e cardiológicas.

O equipamento gera imagens de alta resolução para estudos de mecanismos moleculares em tecidos e foi importado ao custo de cerca de R$ 5 milhões. Uma de suas vantagens é agregar às imagens diversos dados funcionais como metabolismo e medidas de fluxo sanguíneo. Pelo conjunto de recursos disponíveis, o Centro já é avaliado como um dos mais avançados no gênero, no país.

Inicialmente, o tomógrafo será usado em investigações científicas sobre epilepsia; câncer de tireoide, pulmão e fígado; doenças renais em crianças, além de outras neurodegenerativas, como Alzheimer, e psiquiátricas – esquizofrenia, transtorno bipolar e depressão. Todas elas são foco de rede de pesquisadores reunidos no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) em Medicina Molecular.

A proposta de criação desse Instituto foi aprovada em 2008, com o recebimento de R$ 7,2 milhões do Ministério de Ciência e Tecnologia, CNPq e Fapemig. Quase a totalidade do recurso destinou-se à aquisição do PET. “O INCT ainda é inicial, mas, como nasce dentro de uma infraestrutura robusta, seu desenvolvimento deverá ser rápido”, avalia o professor da Faculdade de Medicina da UFMG Marco Aurélio Romano-Silva, que coordena o Instituto.

É do próprio Romano-Silva a condução de uma das pesquisas que poderá ganhar desdobramentos expressivos com os novos recursos: a epilepsia refratária. Doença crônica e degenerativa que atinge pelo menos 50 milhões de pessoas, sobretudo em países em desenvolvimento, a epilepsia manifesta-se de diversas formas, podendo mostrar, inclusive, resistência a todos os tipos de medicamentos disponíveis. Dado relevante apresentado por especialistas indica que, do total dos portadores da doença, em todo o mundo, cerca de 30 milhões são refratários. Na UFMG, a modalidade estudada será a epilepsia refratária do lóbulo temporal mesial, a mais comum e mais comprometedora entre os vários tipos da doença.

Multivisão

O lóbulo temporal mesial, localizado atrás das têmporas, reúne estruturas importantes do cérebro, como o hipocampo e as amígdalas, e é responsável por comandar funções da memória e das emoções, por exemplo. É dessa área que são enviados os sinais elétricos alterados que produzem espasmos musculares, mudanças de comportamento e perda de consciência durante as crises epiléticas.

“Alguns pacientes apresentam quadro persistente de convulsões, sendo este o maior fator de risco de morte”, observa Romano-Silva. Apesar do progresso registrado no tratamento da epilepsia comum, a refratária permanece uma incógnita. Como o próprio nome sugere, a versão refratária da epilepsia é aquela em que o paciente não responde aos medicamentos usados no tratamento, os chamados anticonvulsivantes. De acordo com o pesquisador, a explicação pode estar em causas ambientais, bioquímicas, imunológicas e genéticas.

“Há teorias que associam a desordem a inflamações na região temporal mesial, a partir da infiltração de células imunológicas no tecido cerebral, ou a alteração de determinados tipos de neurotransmissores e mesmo a características genéticas”, sintetiza Romano-Silva. “Por essas razões, novos modelos e abordagens inovadoras no diagnóstico e tratamento são necessários. Tentaremos identificar essas questões a partir de neuroimagens, métodos genômicos e de biologia celular para saber se há alterações estruturais e funcionais nas células daquela região do cérebro”, registra o professor, que atualmente é pró-reitor adjunto de pesquisa da UFMG.

O trabalho prevê análise de tecidos de hipocampo extraídos de 120 pacientes epiléticos resistentes a tratamento. As cirurgias serão feitas pelo Hospital das Clínicas da USP e pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, consideradas referências nessa modalidade de intervenção.

O estudo na UFMG integra chamada financiada pela Fapemig e Fapesp, junto a outras três pesquisas sobre a doença desenvolvidas em parceria por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Campinas (Unicamp) e São João del-Rei (UFSJ). Marco Aurélio Romano-Silva divide a coordenação do projeto com o professor Edson Amaro Jr., da USP.

Em São Paulo, a contribuição tecnológica e de expertise abrange ainda o uso de eletroencefalograma com registro simultâneo de ressonância magnética funcional. A estratégia permite identificar lesões nas estruturas temporais mesiais, por meio do cruzamento de dados dos sinais elétricos do cérebro e dos locais onde se registram atividades metabólicas mais intensas. A previsão é que a pesquisa se estenda por cinco anos, ao custo de R$ 250 mil para a UFMG/Fapemig e R$ 460 mil para a USP/Fapesp.

Matéria publicada na edição 1711 do Boletim UFMG


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