O país está a caminho de se tornar autossuficiente na produção de radioisótopos e radiofármacos, substâncias essenciais na Medicina Nuclear, que servem como base para mais de 30 tipos de remédios utilizados em 80% dos procedimentos no tratamento de câncer
Fonte: A Crítica
Da redação com informações da assessoria
Armando Cirilo de Souza, é o representante de MS no projeto já apontado por especialistas como a mais importante iniciativa da pesquisa nuclear no Brasil, com investimento do Governo Federal de mais de R$ 1 bilhão / Divulgação/Assessoria
Com a ambiciosa meta de tornar o Brasil autossuficiente na produção de substâncias utilizadas no tratamento e diagnóstico do câncer, um grande projeto científico vem desenvolvendo o primeiro Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). E na equipe composta por cientistas de ponta do país e do exterior, o professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Armando Cirilo de Souza, é o representante de MS no projeto já apontado por especialistas como a mais importante iniciativa da pesquisa nuclear no Brasil, com investimento do Governo Federal de mais de R$ 1 bilhão.
Com este reator, o Brasil poderá produzir o elemento radioativo Molibdênio 99, que é utilizado na prevenção e no tratamento de câncer. Atualmente se importa de outros países a valores altos que impedem a utilização adequada do recurso. O Brasil compra alguns mililitros para dividir entre todos os hospitais do país (para utilização em equipamentos para tratamento e prevenção do câncer). Com a construção do reator multipropósito o Brasil poderá produzir e exportar este elemento.
Armando de Souza participa do projeto desde 2011, no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), e tem como função desenvolver novos tubos de Zr1Nb (zircônio 1% de nióbio) que vão dentro do reator nuclear. Os tubos confeccionados pelo professor são o "coração do reator nuclear”, ou seja, fazem parte do combustível nuclear. Ele constrói os tubos em que vão as pastilhas de urânio enriquecido, "imagine então que os tubos que eu faço são como o tubo de uma caneta e as pastilhas de urânio enriquecido são a tinta. É ali que acontece a radiação dentro do reator”, ilustra.
O país está a caminho de se tornar autossuficiente na produção de radioisótopos e radiofármacos, substâncias essenciais na Medicina Nuclear, que servem como base para mais de 30 diferentes remédios, utilizados em cerca de 80% dos procedimentos adotados no tratamento de câncer e várias outras doenças. Ou seja, é fundamental para a realização de exames que permitem diagnosticar tumores, doenças cardiovasculares, função renal, problemas pulmonares, neurológicos, entre outros.
Além de gerar benefícios na área da saúde, o Reator Multipropósito produzirá fontes radioativas para aplicação na indústria, na proteção do meio ambiente e na agricultura. "Então a radiação não é só maléfica, ela pode também ser utilizada para o bem, assim como no tratamento do câncer, como o diagnóstico. Na agricultura o reator multipropósito pode ajudar no melhoramento de grãos, que tem maior resistência a pragas, insetos, fungos e bactérias. E na indústria são desenvolvidos equipamentos que emitem radiação para hospitais, como Raio X e tomografias”, exemplificou.
Receptáculo
O docente também faz parte do projeto de construção do primeiro receptáculo para transporte de material radioativo brasileiro, o projeto vai até 2018 e tem quase R$1 milhão em recursos.
"Estamos desenvolvendo novos materiais para fabricação do receptáculo para transporte de material radioativo, onde meu papel é realizar a caracterização microestrutural e termo-mecanodinâmico dos materiais fabricados, sendo que uma parte eu já desenvolvi na The University of Sheffield-UK, no Reino Unido, quando cursava o pós-doutorado”, explicou o professor.
Diversos pesquisadores estão tentando desenvolvê-lo, pois ele precisa ser blindado para transportar o elemento radioativo Molibdênio 99. Devido à complexidade da tecnologia deste dispositivo, atualmente, ele é alugado por altíssimos valores da Argentina, Canadá, África do Sul e Rússia. É um recipiente relativamente pequeno, tem 28 cm diâmetro e 37 centímetros de altura, mas pesa mais de 100kg.
Ele trabalha com o elemento Tungstênio que é a parede de blindagem dentro do núcleo do receptáculo. "É complexo, porque este dispositivo precisa ser inviolável e suportar qualquer fator de impacto, por exemplo, explosão, choque, queda de uma aeronave, pois o material que está dentro é radioativo e se em um acidente se propagar é como se fosse uma bomba nuclear, pode causar inúmeros danos”.
Com a construção do Reator Multipropósito e do receptáculo o Brasil economizará muitos recursos anualmente, "o país gasta milhões e milhões tanto com o transporte quanto com o elemento anualmente. Se conseguirmos alcançar estes objetivos será um fator de economia muito grande. Acredito que os remédios para os tratamentos vão ficar mais baratos. Hoje já é feita a caracterização dos fármacos no Ipen, mas nós vamos ter os elementos que vão baratear os tratamentos específicos de câncer: quimioterapia, radioterapia e diagnóstico. Os benefícios para o país são incalculáveis”, disse.
Sobre o Reator Multipropósito Brasileiro
O chamado Reator Multipropósito Brasileiro (RMB) vai ocupar uma área equivalente à de 200 campos de futebol em Iperó, cidade de 28 mil habitantes, localizada a 125 km da capital paulista. Projetado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), autarquia vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
A área de dois milhões de metros quadrados prevista para o complexo está localizada ao lado do Centro Experimental de Aramar (CEA), da Marinha. O objetivo do governo é transformar a região próxima a município de Sorocaba no maior polo de desenvolvimento nuclear do país.
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