Material do Dr. Jason Rivers apresentado no Meeting da AAD
Um estudo australiano recente analisou lesões de melanoma com mesmo padrão histológico em cabeça e pescoço versus tronco. Os autores observaram exposição profissional cumulativa, mais ceratoses solares e menos nevos melanocíticos no tronco dos indivíduos portadores de melanoma na cabeça e pescoço. Tais achados levam à conclusão de que o melanoma se desenvolve a partir, no mínimo, de duas vias: uma relacionada à instabilidade melanocítica e outra relacionada à exposição solar crônica.
Mas existe qualquer outra evidência que suporte essa hipótese? Diversos estudos reforçaram a observação de que os nevos melanocíticos são tanto marcadores como precursores do melanoma. Além disso, há boas evidências de que os nevos melanocíticos se desenvolvem como conseqüência da exposição solar, com prevalência crescente quanto maior a proximidade ao equador em indivíduos de pele clara. Ainda assim, a maior parte das lesões de melanoma não apresenta uma ligação histológica com nevos melanocíticos, o que mais uma vez sugere o envolvimento de uma segunda via no desenvolvimento da doença. O melanoma oriundo de nevos melanocíticos parece diferente daquele com ocorrência “de novo”: no primeiro caso há uma probabilidade mais alta de menor espessura segundo Breslow, sendo observado em indivíduos mais jovens e associado à maior densidade de nevos melanocíticos. Segundo a base molecular, também há dados sugestivos de que o melanoma surge por vias diferentes. Tumores positivos para TP53 parecem ocorrer somente naqueles com maior dificuldade de bronzeamento (Fototipo I e II), história de câncer não-melanoma, lesões em cabeça e pescoço e nas extremidades inferiores. BRAF é um oncogene com mutações encontradas frequentemente nos nevos melanocíticos e em alguns melanomas. Essas mutações parecem ocorrer com freqüência mais alta na pele exposta intermitentemente ao sol, raramente na pele exposta de forma crônica e praticamente nunca em locais de mucosa. O gene receptor da melanocortina I (MCIR) detém papel central na determinação da cor do cabelo e da produção de feomelanina (em caso de mutações com perda da função). Da mesma forma, variações deste gene levam ao risco aumentado de melanoma, independentemente do fenótipo. Há hoje evidências razoáveis da ocorrência de pelo menos duas vias para o estabelecimento do melanoma. E esses achados podem explicar as imprecisões em nível clínico? Por exemplo, sabe-se bem que aqueles que trabalham ao ar livre apresentam uma incidência menor de melanoma em comparação aos que trabalham em ambientes internos. Alguns autores passaram a sugerir recentemente que a exposição ao sol na infância deve ser encorajada, enquanto outros sugerem que a exposição ao sol está relacionada a um índice melhor de sobrevida no melanoma. Junto a estas afirmações está a dúvida cada vez maior sobre a necessidade de ingestão de vitamina D e o papel dos protetores solares na prevenção do melanoma.
Podemos dizer que nossas políticas atuais de saúde pública não devem ser abandonadas com base nessas observações. A luz do sol causa, sim, a maior parte das lesões de melanoma. Seja a exposição crônica ou intermitente, indica-se a manutenção de uma abordagem mais conservadora. As atividades ao ar livre devem ser encorajadas, mas a exposição prolongada evitada e a pele protegida da irradiação UV por meio de vestimentas adequadas e filtros solares de amplo espectro. Tendo-se em mente que o melanoma pode se desenvolver por muitas vias, é possível que sejamos capazes, no futuro, de refinar nossos tratamentos e determinações de saúde pública a fim de enquadrar o perfil molecular de cada paciente.
RIVERS, J. – Is there more than one pathway to melanoma? AAD Annual Meeting 2007.
Melanoma
Boletim Informativo do GBM – ANO IX – NÚMERO 36 – JANEIRO, FEVEREIRO E MARÇO DE 2007
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