Giuliano Bonamim
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Adival B. Pinto / JCS
O reator de pesquisa será construído em uma área adjacente ao Centro Experimental Aramar (CEA), da Marinha do Brasil |
A água do rio Sorocaba será usada para dissipar o calor na torre de refrigeração do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), em Iperó. O projeto prevê a retirada de 30 litros de água por segundo e a devolução à natureza de 20,3% do material captado sem danos ao meio ambiente.
O coordenador técnico do RMB, José Augusto Perrotta, explica que a captação máxima no rio Sorocaba será de 108 metros cúbicos de água por hora. "Ou seja, o equivalente a um balde por segundo", exemplifica. "Comparada à vazão do rio, é uma quantidade extremamente pequena", comenta.
O empreendimento fará o uso da água e retornará 22 metros cúbicos por hora ao rio Sorocaba, após um tratamento interno. O material não devolvido à natureza permanecerá no local para ser reciclado ou será evaporado. "Esse sistema de refrigeração é igual ao encontrado em shopping centers, que resfria a água que está mais quente e evapora parte dela", conta Perrotta.
Duas tubulações, cada uma com aproximadamente 2,5 quilômetros de extensão, serão construídas para levar a água até o empreendimento e devolvê-la ao manancial. O processo será feito com a ajuda de um sistema de bomba de sucção.
Perrotta explica que a água captada do rio Sorocaba será usada exclusivamente na torre de refrigeração do RMB. "Esse material não terá nenhum contato com a parte nuclear. A água do reator é fixa, constante, não tem contato com o meio exterior", diz.
Segundo Perrotta, a água para o consumo humano será retirada do subsolo. A quantidade será de 6,5 metros cúbicos por hora. A medida será tomada pois não existe naquela região um sistema de distribuição feita pela concessionária.
O parecer para a utilização da água do rio Sorocaba no RMB foi apresentado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), sexta-feira, em Ibiúna. O texto foi aprovado pelos membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT).
De acordo com o Comitê, "as ações e mecanismos previstos pelo empreendedor não deverão impactar diretamente nos recurso hídricos em relação à quantidade de água retirada e à qualidade devolvida ao manancial do rio Sorocaba". O texto será publicado em breve no site da entidade. Integrantes do CBH-SMT não foram encontrados para comentar o assunto.
Perrotta comenta que o projeto do RMB está na fase de obtenção das licenças de autorização para o uso do local. "Estamos aguardando essas respostas, terminando o projeto básico de engenharia e temos que começar o projeto de detalhamento, como instalação, componentes e sistemas", relata.
Maior do país
O RMB de Iperó será o maior do país voltado à pesquisa. A informação consta no Relatório de Impacto Ambiental, elaborado e apresentado em setembro do ano passado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen).
O equipamento será usado no ramo da medicina nuclear, para o diagnóstico e tratamento de cânceres, e nas pesquisas voltadas à agricultura, energia, ciência dos materiais e ao meio ambiente. O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) espera que o projeto entre em funcionamento no fim de 2018.
O projeto prevê a construção do RMB em um terreno localizado no quilômetro 10 da rodovia municipal Bacaetava - Sorocaba, em Iperó. A área tem o tamanho de aproximadamente 2 milhões de metros quadrados e fica ao lado do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP).
A escolha do terreno foi estratégica. O relatório deixa claro que o RMB precisa estar fora de grandes centros populacionais e próximo aos laboratórios de fabricação de radiofármicos _ inseridos no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) _, de forma a otimizar o processo de produção.
A estrutura do RMB será composta de instalações nucleares, radiativas e de suporte que não contêm material nuclear ou radioativo. A concepção e o projeto seguem rígidas normas nacionais e internacionais de segurança das áreas nuclear e convencional para que seja o menor possível o risco de ocorrência de um evento anormal ou acidente envolvendo a operação.
O reator de pesquisa terá 30 MW de potência e será construído em uma área adjacente ao Centro Experimental Aramar (CEA), da Marinha do Brasil, onde é desenvolvido o protótipo do submarino nuclear brasileiro. Nas proximidades encontra-se a Floresta Nacional de Ipanema (Flora), uma unidade de conservação administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no bioma Mata Atlântica.
Notícia publicada na edição de 15/04/14 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 007 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.
Link original: http://www.ipen.br/sitio/?idc=14693
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