O IPEN tem como missão promover a melhoria da qualidade de vida da população brasileira, produzindo conhecimentos científicos, desenvolvendo tecnologias, gerando produtos e serviços, e formando recursos humanos nas áreas nuclear e correlatas. A saúde é um dos campos em que o Instituto atua com excelência desde a década de 50. Nessa trajetória, estão a produção de radiofármacos e, mais recentemente, a nacionalização de fontes para Radioterapia, como no caso das sementes de Iodo-125, usadas para tratamentos de alguns tipos de câncer, entre eles o de próstata.
Único distribuidor dessa fonte radioativa no País, o IPEN agora tem o desafio de produzi-la. Para isso, o Laboratório de Produção de Fontes Radioativas para Radioterapia, do Centro de Tecnologia das Radiações (CTR), desenvolveu um protótipo, e a expectativa é de que no máximo em três anos as sementes de Iodo-125 estejam disponíveis para comercialização. A nacionalização vai baratear os custos e colocar o Brasil no seleto grupo de países que possuem essa tecnologia, ao lado de Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra.
Atualmente, as sementes de Iodo-125, na verdade cápsulas de titânio, são importadas ao preço médio de US$ 45 a unidade (em pacientes com câncer de próstata, por exemplo, normalmente são introduzidas de 80 a 100 unidades na região do tumor). A demanda mensal dessas sementes é de 3,8 mil unidades, o que projeta um mercado anual de US$ 2,052,000.00. Além de baratear os custos, a nacionalização vai permitir a expansão desse tipo de tratamento, denominado braquiterapia, que é menos agressivo e mais eficaz para algumas ocorrências.
Por enquanto, a braquiterapia com sementes de Iodo-125 ainda não é coberta pelo SUS. Existe um consenso entre o IPEN e a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBR) no sentido de pleitear essa cobertura, quando as sementes forem
produzidas em escala comercial pelo Instituto, segundo adiantou a pesquisadora Maria Elisa Chuery Martins Rostelato, coordenadora do Laboratório. "Como se trata de uma demanda expressiva, nós temos condições de pleitear e quem sabe até de obter êxito. Quem sabe?”, indagou.
Outra fonte utilizada na técnica de braquiterapia são os fios de Irídio-192, indicados para tratamento em casos de câncer de cabeça e pescoço, mama e tecidos moles. Eles são produzidos no IPEN desde 1997, irradiados no Reator Nuclear de Pesquisas IEA-R1. A radioatividade precisa ser a mesma em cada ponto do fio, com variação, para mais ou para menos, de até 5%. Mas isso só é possível porque os pesquisadores desenvolveram um dispositivo que permite a uniformidade em toda a extensão da fonte.
"Dever cumprido"
Considerando que um em cada seis homens, em todo o mundo, desenvolverá câncer de próstata até os 70 anos, e que essa proporção aumenta com a idade, a ponto de levar à conclusão de que toda a população masculina teria a doença se a longevidade média atingisse os 100 anos, a braquiterapia pode representar uma opção terapêutica conveniente, com um índice de cura de até 88%.
Elisa ressalta que não existe tratamento "melhor” ou "pior”, cada situação requer um tipo de tratamento, que depende de variáveis como idade, estado clínico, obesidade, grau de infiltração e avanço do tumor, entre outros. A braquiterapia apresenta alta eficácia e vantagens sobre outros métodos curativos para o câncer de próstata. "Sem dúvida, é o método que menor índice de sequelas traz ao paciente, inclusive a impotência sexual, que não é uma variável desprezível”.
Em tumores oculares malignos e benignos, o índice de cura é de até 95%, sendo que em 70% dos casos a visão é preservada (no tratamento convencional, o glóbulo ocular é retirado). "Eu fico muito feliz de poder fazer algo em benefício da sociedade. É uma satisfação pessoal, de dever cumprido, saber que contribuí para o bem-estar de alguém. Mas ainda há muito a ser feito, o Brasil é muito carente nessa área. Temos que continuar nessa direção”, concluiu Elisa.
Saiba mais...
Braquiterapia é um tipo de radioterapia em que as fontes radioativas são colocadas próximas ou junto ao tumor. A grande vantagem dessa técnica, indicada principalmente para câncer de próstata em estágio inicial, é que ela poupa os tecidos sadios.
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No Laboratório do IPEN, os fios de prata recebem o iodo e em seguida são soldados a laser, dentro de cápsulas de titânio. Depois, é feito o controle de qualidade. Só após passar por esse controle é liberado para a terapia nos pacientes.
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Meia-vida é o tempo que um material radioativo leva para reduzir sua atividade pela metade. Ele só deixa de ser radioativo depois de dez meias-vidas. Assim, a radioatividade total do Iodo-125 desaparece após 580 dias ou quase 20 meses.
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O Laboratório de Produção de Fontes Radioativas para Radioterapia do CTR/IPEN foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
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Ana Paula Freire, jornalista MTb172/AM,
da Assessoria de Comunicação Institucional
Colaborou: Edvaldo Paiva
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