Exposição reduzida serviria como ’treino’ para o corpo lidar com mutações diárias, diminuindo o risco de câncer
As pequenas doses de radiação às quais os pacientes são submetidos em exames de imagem como raio-X, tomografias computadorizadas e cintilografias podem não ter efeito nocivo no aumento dos casos de câncer. Na verdade, essa exposição reduzida poderia ter efeito contrário, fortalecendo os mecanismos de reparo celular do organismo e diminuindo o risco de câncer. É o que sugere um artigo publicado recentemente pelo periódico Technology in Cancer Research & Treatment.
Segundo o médico nuclear e diretor da clínica especializada MND Campinas, Celso Darío Ramos, o estudo realizado em conjunto por físicos e médicos norte-americanos apresenta uma nova perspectiva no entendimento sobre os efeitos das pequenas doses de radiação no organismo.
“Os pesquisadores discutem a validade do modelo utilizado em grande parte dos estudos atuais para a medição das doses de radiação, chamado de Linear Non-Threshold Model (LNT), algo como ‘modelo linear sem limiar de resposta à dose de radiação’. Basicamente, esse tipo de aferição pressupõe que o câncer pode resultar de uma única ionização de uma célula crítica, concluindo que não existiria dosagem segura para o uso de radiação”, explica.
Mecanismo de defesa
O especialista esclarece que o processo natural de reprodução celular cotidiano do organismo é responsável por milhares de mutações no DNA todos os dias. Por conta disso, existem mecanismos de reparo dessas estruturas, impedindo que essas alterações provoquem neoplasias.
O modelo linear colocado em xeque no estudo não leva em conta esse mecanismo básico do organismo, algo vital para um entendimento mais completo dos efeitos da radiação. Segundo o artigo, as pequenas doses de radiação utilizadas nos exames ajudariam a prevenir alguns tipos de câncer exatamente por ’exercitar’ esse mecanismo de reparo com quantidades seguras de mutação.
Medo do desconhecido
Outro ponto levantado pelos pesquisadores diz respeito à radiofobia, medo exagerado dos efeitos da radiação. Segundo o estudo, a reação exacerbada de temor das pessoas frente a desastres como o de Fukushima, em 2011, chega a ser mais letal do que a exposição à radioatividade em si.
O artigo aponta que o Japão registrou por volta de mil mortes ocasionadas por conta das evacuações forçadas, enquanto a exposição à radiação em si não ocasionou nenhum efeito direto à saúde da população. Os pesquisadores ainda atentam para outros dados que não podem ser estimados, mas que são comuns em casos como o de Fukushima, como o número de suicídios e até abortos desnecessários causados pela radiofobia.
Radioatividade para a saúde
Segundo o diretor da MND Campinas, esse mesmo medo da radiação está presente no cotidiano da medicina nuclear, especialidade que usa quantidades mínimas de substâncias radioativas (radiofármacos) como ferramenta para obter diagnósticos e oferecer tratamentos precisos. Utilizando esses elementos, o médico nuclear consegue obter imagens minuciosas que mostram o funcionamento dos órgãos do corpo humano e seus tecidos em pleno funcionamento.
“Existe um temor quando os procedimentos envolvem elementos radioativos. Isso se deve, sobretudo, à falta de conhecimento. A quantidade de radiação envolvida é ínfima e utiliza radioisótopos de meia-vida muito curta, que são rapidamente retirados do organismo. Esses fatores tornam o diagnóstico da medicina nuclear mais seguro do que muitos exames mais invasivos e menos precisos”, explica Ramos.
Entre as áreas de atuação da especialidade, estão o diagnóstico e tratamento de diversos tipos de câncer, doenças crônicas como as cardiovasculares e renais, alterações na tireoide e tumores neuroendócrinos.
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