sábado, 23 de julho de 2016

Greve no Ipen afeta fornecimento de radiofármacos e atrasa procedimentos

Técnicos reivindicam mudança em projeto de lei de reajuste salarial.
Houve atraso na entrega de insumos na segunda e na terça-feira.

Mariana LenharoDo G1, em São Paulo
PET-CT, exame usado no diagnóstico de câncer, é um dos procedimentos que utiliza radiofármacos produzidos pelo Ipen (Foto: Reprodução EPTV)

Uma greve no Instituto de Pesquisas Energéticas Nucleares (Ipen) pode afetar diagnóstico e tratamento de pacientes com câncer, doenças cardiovasculares, doenças neurológicas, entre outras enfermidades. O instituto é o produtor de cerca de 95% de todos os radiofármacos usados no Brasil. Radiofármacos são substâncias radioativas utilizadas na medicina tanto para exames quanto para terapias.

O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Claudio Tinoco Mesquita, observa que os radiofármacos atuam em quase todas as áreas da medicina e que a entidade vê a situação com preocupação.

Segundo Mesquita, podem ser afetados pacientes com câncer de pulmão, colorretal e linfoma que necessitem do PET-CT, exame que utiliza o radioisótopo Flúor-18; pacientes com câncer de tireoide, doença tratada com iodo radioativo; pacientes com doenças cardiovasculares que precisem do exame de cintilografia do miocárdio, que também utiliza uma substância radioativa, entre outros.

Reivindicação
Os técnicos do Ipen, que começaram a paralisação na segunda-feira (18), reivindicam uma mudança no Projeto de Lei nº 33/2016, que diz respeito ao reajuste salarial de funcionários federais, segundo Claudio Manoel Constâncio, diretor da Associação dos Servidores do Ipen (Assipen).

Os técnicos ficaram de fora desse projeto, o que na prática pode significar que, além de não receberem o reajuste previsto de 5% para este ano e 5% para o ano que vem, eles perderiam a gratificação de qualificação, que representa 40% da remuneração desses funcionários. O projeto de lei já passou pela Câmara e pelo Senado e aguarda sanção presidencial.

“Fomos ao governo e eles reconhece o erro, mas dizem que não tem como alterar o projeto de lei”, diz Constâncio. Segundo ele, a lei afetaria todos os técnicos da área de Ciência e Tecnologia da esfera federal, cerca de 8 mil pessoas.

Constâncio afirma que os técnicos fecharam o setor de produção de radiofármacos nesta quinta-feira (21) e que a categoria também vai boicotar a ida de 30 técnicos para Manaus e Salvador como parte da aplicação do protocolo de segurança para material radioativo durante a Olimpíada.

Procedimentos adiados
Segundo o superintendente do Ipen, José Carlos Bressiani, o movimento já provocou atrasos na entrega de radiofármacos na segunda e na terça-feira. Exames e procedimentos marcados para esses dias tiveram de ser remarcados.




“Estamos deslocando pessoas de outros setores para ajuda na produção, mas a associação decidiu em assembleia bloquear a saída do material. Se isso ocorrer, não vai ter como entregar”, diz. Ele acrescenta que o Ipen está em negociação com a associação de servidores e com o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI) para reverter a paralisação.

Se houver a interrupção do fornecimento do material, 430 clínicas e hospitais em todo o Brasil serão afetadas. Por dia, de 5 mil a 6 mil pacientes fazem algum exame ou tratamento com radiofármaco no país.

De acordo com Bressiani, além da greve, o Ipen vive uma crise financeira. “A gente tem recurso para tocar até mais ou menos a metade de setembro. A partir daí, precisa complemento de orçamento. Se não complementar, não tem como fazer”, afirma.

A Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear defende a quebra do monopólio do governo sobre os radiofármacos e que exista uma abertura do mercado para outros fornecedores, para evitar uma dependência tão grande do Ipen.

Nenhum comentário:

Postar um comentário