sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Cobertura para exame mais moderno que detecta avanço do câncer vai ser ampliada em 2014

Enquanto a tecnologia que chegou ao Brasil em 2002 começa a beneficiar uma parcela maior da população, aparelhos mais modernos e precisos são lançados no mercado internacional

Paula Takahashi - Estado de Minas
Publicação:22/12/2013 09:03

Para milhares de brasileiros, janeiro de 2014 marca o início de uma nova fase no diagnóstico e tratamento do câncer. A partir do próximo mês, pacientes com plano de saúde serão beneficiados pela ampliação do rol de coberturas anunciada no fim de outubro pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entre os novos procedimentos previstos, a extensão do PET/CT – associação entre tomografia por emissão de pósitrons e a tomografia computadorizada – para outras formas de neoplasia promete ser a grande revolução na identificação precoce e tratamento eficaz contra a doença.

Enquanto a tecnologia que chegou ao Brasil em 2002 começa a beneficiar uma parcela maior da população, aparelhos mais modernos e precisos são lançados no mercado internacional. O jornal Estado de Minas começa hoje a série "Tecnologia contra o câncer" para discutir os principais avanços da radiologia e da medicina nuclear, os benefícios no combate ao câncer – responsável por 17% das mortes no Brasil – e os desafios para reduzir a defasagem ainda existente entre o mercado brasileiro e o mundial.

Aparelho PET/CT associa a tomografia por emissão de pósitrons e a tomografia computadorizada, dando maior precisão sobre a localização dos tumores nos pacientes

Ampliar o acesso é um importante passo para estimular novos investimentos das redes hospitalares em tratamentos de ponta. Até agora, somente pacientes com câncer colorretal, linfomas e alguns casos de pulmão têm acesso ao PET/CT por meio do plano de saúde. Os demais são obrigados a desembolsar cerca de R$ 3,5 mil para realizá-lo. Valor proibitivo para a grande massa de brasileiros. Com a mudança, a partir do começo do ano, muitas restrições para câncer pulmonar foram eliminadas e, além disso, outras versões da doença, como a de mama, cabeça e pescoço, esôfago e melanoma foram incorporadas à lista de cobertura. 

“Acredito que com essas mudanças conseguimos atingir uma gama bem ampla das neoplasias com maior incidência na nossa população. Vamos atender os principais casos daqui pra frente”, avalia Clarice Sprinz, responsável médica pelo PET/CT do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS). A médica nuclear do Departamento de Diagnóstico por Imagem do Hermes Pardini, em Belo Horizonte, Ivana Moura Abuhid, lembra que para cada tipo de tumor a cobertura será oferecida em situações específicas. "Na maioria das vezes, quando os exames convencionais não forem suficientemente esclarecedores", observa.


Ampliar o acesso ao PET/CT (também conhecido como PET/Scan) visa, justamente, trazer maior acurácia não apenas na detecção rápida e segura dos tumores, mas também em seu estadiamento – se está localizado ou disseminado em metástases – e na definição do tratamento mais indicado. Ivana Abuhid lembra que, antes desse método, o diagnóstico e estadiamento dos tumores eram baseados em estudos anatômicos morfológicos, normalmente oferecidos a partir da tomografia computadorizada, ultrassonografia e ressonância magnética. "Essas técnicas fornecem informações muito importantes sobre o tamanho, volume e localização das lesões com excelente detalhamento anatômico", observa Ivana.

A médica nuclear Ivana Abuhid orienta e acompanha paciente que vai ser submetida a exame no PET/CT

METABOLISMO ALTERADO 

Mas antes mesmo das mudanças morfológicas, a doença já é capaz de causar alterações metabólicas nas células, comportamento que antes não era percebido. "O papel do PET/CT é justamente identificar as alterações metabólicas em nível celular, localizando a doença maligna antes que as alterações anatômicas de aumento de volume por exemplo se tornem evidentes", explica Ivana. Para Clarice Sprinz, o PET/CT é, no país, o que há de mais moderno à disposição do paciente.

Sua eficácia na leitura da dinâmica metabólica do tumor é fundamental também no processo de definição das melhores alternativas de tratamento. "Antes de verificarmos a redução de tamanho, o tumor perde vitalidade metabólica. Dessa forma, conseguimos ver com antecedência se ele está respondendo ao tratamento empregado", observa Marcelo Livorsi da Cunha, um dos médicos do serviço de medicina nuclear e PET/CT do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.


Se o retorno for positivo, é possível interromper o tratamento antes do tempo previsto. Caso contrário, providências podem ser tomadas rapidamente. "Com o número crescente de opções de drogas de quimioterapia, as que estavam sendo utilizadas podem ser trocadas por outras mais eficazes ou ser associadas a um segundo tratamento, como uma radioterapia, por exemplo", observa Ivana.



Indicação do teste é restrita

Apesar de parecer a solução definitiva para qualquer diagnóstico, o PET/CT não é indicado para triagem dos tumores. "As pessoas perguntam se qualquer um deve fazer um PET para saber se tem ou não um tumor que ainda não se manifestou. A resposta é não", diz Ivana Abuhid. Outros métodos diagnósticos já estabelecidos, como exame clínico, mamografia, colonoscopia e ultrassonografia devem ser priorizados. "O PET/CT é realizado geralmente em pacientes que já têm sabidamente um tumor, e queremos estudá-lo melhor quanto à sua disseminação para outras partes do corpo, para a avaliação da eficácia do tratamento ou para detectarmos mais precocemente uma possível recidiva ou recorrência do tumor após o término de um tratamento, por exemplo", alerta a médica nuclear.

Já disponível na saúde pública


Foi encerrada no início deste mês consulta pública para que a sociedade contribuísse com propostas sobre a incorporação do PET/CT no Sistema Único de Saúde (SUS). O exame seria indicado para a detecção de metástase hepática exclusiva potencialmente ressecável de câncer colorretal, estadiamento clínico do câncer de pulmão de células não pequenas potencialmente ressecável, para o estadiamento e avaliação da resposta ao tratamento do linfoma de Hodgkin e linfoma não Hodgkin.








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