quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Na terra dos reatores - Jornal Cruzeiro do Sul

Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul

Um novo ciclo de desenvolvimento tecnológico, maior do que tudo o que a região já presenciou em termos de pesquisa científica e tecnologia de ponta, está em vias de ser deflagrado no município de Iperó com o início do processo de construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Trata-se de um reator nuclear de 30 megawatts em torno do qual a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), por intermédio do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), pretende implantar um centro nacional de pesquisas para a produção de radioisótopos usados na saúde, indústria, agricultura e meio ambiente; irradiação de combustíveis e materiais nucleares, para análise de desempenho e comportamento; e pesquisas científicas e tecnológicas com feixes de nêutrons.

Detalhes do megaempreendimento foram trazidos em primeira mão para os leitores deste jornal em reportagens exclusivas de Simone Sanches ("Iperó - Poli/USP deve instalar unidade anexa a Aramar", 22/8, pág. A7) e de Marcel Stefano ("30 megawatts - Iperó ganhará um segundo reator nuclear", 31/8, pág. A7). As instalações aproveitarão parte das terras do Centro Experimental Aramar e demandarão um investimento de R$ 850 milhões. Juntos, Aramar e o RMB formarão o maior centro de pesquisas nucleares do país. Dentro de mais alguns anos, num raio de poucos quilômetros, haverá dois reatores nucleares em pleno funcionamento, o RMB e o chamado LabGene (Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica), que será um protótipo em terra do reator que impulsionará o submarino nuclear brasileiro.

O projeto já entrou em fase de licitações, e é no contexto desse novo polo de pesquisa que deverá ocorrer a parceria entre Aramar e a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP), para a implantação de um curso nas áreas de Engenharia Nuclear, de Materiais e de Computação. Não seria exagero afirmar que o novo centro de pesquisas, somado ao Parque Tecnológico, também em vias de ser implantado, deverá agregar valor para a cidade e a região, consolidando Sorocaba e cidades vizinhas, hoje já praticamente conurbadas, como uma espécie de capital nacional da alta tecnologia, detentora do ciclo completo de pesquisa, desenvolvimento e produção de materiais altamente tecnologizados.

Por outro lado, é preciso lembrar que reatores nucleares, mesmo os de baixa potência, implicam riscos muito objetivos e por isso precisam ser administrados com transparência, para que a população tenha totais garantias de que sua operação respeite as normas de segurança e, na eventualidade de um acidente, de que haja um plano de emergência pronto para ser ativado. É por essa razão que as lideranças regionais devem procurar inteirar-se do projeto e buscar alguma forma de organização para acompanhar a implantação do RMB e do LabGene, com apoio de especialistas independentes. Além de fiscalizar, o grupo deverá se comprometer a levar para a população todas as informações que ela tem o direito de saber, já que dizem respeito a sua proteção.

Não se pode esquecer, também, que o colossal projeto de pesquisa será instalado à margem de uma estradinha perigosa, praticamente uma vicinal que foi asfaltada, sem acostamentos e cheia de trechos sinuosos, onde acidentes graves têm ocorrido com frequência. É de provocar calafrios a perspectiva de se ter, em futuro próximo, cargas radioativas circulando pela via tortuosa que tirou a vida de oito pessoas, somente este ano; - e isso, ao lado de estudantes e de um número maior de trabalhadores. Além de acompanhar a implantação e operação dos reatores nucleares, será preciso que os políticos e lideranças civis de Sorocaba e região se mobilizem para pressionar o governo do Estado e garantir que a via de acesso seja duplicada. De outra forma, o projeto nascerá comprometido naquilo que é seu calcanhar de aquiles: a segurança.

Link original: http://www.ipen.br/sitio/?idc=10141

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