É inegável a expectativa em torno de novas incorporações para o
tratamento do câncer de próstata metastático resistente a castração. A
chegada do radium-223, o Xofigo®, da Bayer, é cercada de uma expectativa
adicional, já que deve ficar para a história entre os primeiros
radiofármacos registrados pela Anvisa no Brasil.
“Os dados de qualidade estão em análise interna e consultores ad hoc
avaliam eficácia e segurança. São formadores de opinião que vão elaborar
seu parecer em caráter consultivo e subsidiar a tomada de decisão da
Anvisa, para deferimento ou indeferimento do produto”, explica Marcelo
Moreira, Gerente-Geral de Produtos Biológico, Sangue, Tecidos, Células e
Órgãos da Anvisa.
Sob a análise da agência brasileira está o estudo de fase III ALSYMPCA,
que embasou a aprovação do radioisótopo-alfa em vários países e
demonstrou seu papel na doença avançada.
O estudo considerou pacientes com câncer de próstata metastático
resistente a castração, com mais de duas lesões ósseas, sintomáticos,
sem metástases viscerais e sem linfonodomegalias acima de três
centímetros. Os pacientes elegíveis foram randomizados para receber
radium-223 mais suporte clínico, incluindo tratamentos hormonais, versus
placebo mais suporte clínico. “A análise final demonstrou redução do
risco de morte de 30% com o uso do radium comparado com placebo e a
mediana de sobrevida foi de 15 meses versus 11,3 meses, com vantagens
para os pacientes que utilizaram radium”, diz Diogo Assed Bastos, médico
do Icesp e do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
O ALSYMPCA também aumentou significativamente o tempo para a progressão
de um evento esquelético, de 10 para 16 meses, e alcançou todos os
demais desfechos secundários. Os resultados sugerem que o benefício foi
ainda maior no subgrupo com alto volume de doença, com 6 ou mais lesões
ósseas. “Foi uma medicação muito bem tolerada. Os efeitos colaterais dos
pacientes do grupo placebo foram comparáveis aos dos pacientes tratados
com radium. Numa análise de qualidade de vida, o uso do radioisótopo
trouxe benefícios e esse é um desfecho muito importante para o paciente
oncológico”, lembra Bastos.
Evolução
Historicamente, estrôncio e samário estão associados a melhora
sintomática e qualidade de vida, apesar da toxicidade hematológica
significativa. No entanto, nunca estiveram associados a ganhos de
sobrevida global. Na prática, a experiência mostra que boa parte dos
pacientes é encaminhada numa fase tardia e se beneficia pouco dessas
estratégias.
“Mais de 100 anos atrás, o radium já era visto como um antineoplásico
promissor. Depois, ficou esquecido por muitos anos e mais recentemente
foi retomado em novas investigações”, observa o oncologista.
Agora, estudos comprovam que além de eficaz, a droga é bem tolerada,
com baixa toxicidade. A dose aprovada é de 50 kBq/kg, administrada por
via intravenosa, mas doses de até 250 kBq/kg foram testadas e se
demonstraram seguras, principalmente em termos hematológicos.
“A minha impressão é de que a história do radium está só começando.
Especialistas agora apostam em estudos de combinação com quimioterapia e
com as novas terapias hormonais, como abiraterona e enzalutamida.
Estudos estão sendo desenhados e estão em andamento para testar essas
estratégias”, avisa Bastos.
Mecanismo de ação
Os beta emissores promoviam baixa
transferência de energia linear, já que o peso de suas partículas é
muito pequeno. Os radioisótopos-alfa, ao contrário, são partículas mais
pesadas, que depositam de forma muito concentrada a sua energia. “Isso
significa a possibilidade de concentrar muito mais radiação na área de
interesse”, diz George Barberio Coura Filho da Sociedade Brasileira de
Medicina Nuclear (SBMN). “Assim como o cálcio, o rádium também se
deposita nos ossos”, compara. “A meia-vida é de 11,4 dias, com 93% das
emissões representadas por partículas alfa. Isso muda o paradigma no
tratamento de doença metastática óssea”, diz o especialista da SBMN.
Coura Filho lembra da importância da abordagem multidisciplinar no
câncer de próstata metastático resistente a castração. “O médico nuclear
vai receber esse paciente, seja do urologista ou do oncologista
clínico. Cabe ao médico nuclear fornecer orientação ao paciente durante o
tratamento e estar atento à perspectiva da radioproteção, como já está
habituado a fazer com outros radiofármacos”, esclarece.
Link original:
http://www.onconews.com.br/site/noticias/noticias/reportagens/791-radiof%C3%A1rmacos-no-tratamento-do-c%C3%A2ncer-de-pr%C3%B3stata.html