quinta-feira, 30 de junho de 2016

Produção de Fluorcolina-18F e o FLT no IPEN vai possibilitar maior número de diagnósticos de tumores precoces

Pioneiro na produção de moléculas marcadas com F-18 e Ga-68, para estudos em oncologia por PET-CET, IPEN passará a fornecer em larga escala dois marcadores para tumores de próstata e de mama.


Dois novos radiofármacos, a Fluorcolina-18F e o Fluortimidina-18F (FLT), usados em exames PET-CT (tomografia por emissão de pósitrons – tomografia computadorizada) para detecção precoce de tumores, começarão a ser produzidos no Centro de Radiofarmácia (CR) do IPEN, em São Paulo. Indicada para o diagnóstico em tumor de próstata, a Fluorcolina encontra-se em estágio final de produção, com previsão de testes clínicos em humanos em agosto, sendo os hospitais Alto da XV, em Curitiba (PR), e Fundação Antônio Prudente A.C. Camargo, em São Paulo, precursores para aplicação dessa nova técnica.
"O envio das primeiras doses da Fluorcolina está dependendo apenas da aprovação pelo Comitê de Ética dessas duas instituições. Depois de um ano de muito trabalho, conseguimos sair da fase de pesquisa – pré-clínica – para a fase de produção. Mas, para administrar em humanos, que é a fase clínica, é necessário ter o protocolo de pesquisa aprovado. Apesar do baixo risco desse procedimento, nessa fase, o paciente precisa assinar um documento de ciência e só então o medicamento é injetado”, explica Regina Célia Carneiro, do CR.
Com relação a aplicação do FLT, onde um maior número de tumores pode ser diagnosticado, entre eles, linfoma não-Hodgkin, proliferação pulmonar, mama, orofaringe, leucemia mielóide aguda, todos os testes pré-clínicos, realizados em células e animais, já foram completados. De acordo com Regina, a próxima etapa é a transposição da pesquisa para a produção, quando o medicamento também será injetado em pacientes. "Essa transposição não demora muito, e até dezembro deste ano começaremos a distribuir FLT para esses mesmos hospitais e talvez para outros. A demanda no país é enorme e outros institutos da CNEN, a partir do pioneirismo do IPEN, poderão produzir esse radiofármaco”.
Nos processos radioativos, a meia-vida (ou período de semi desintegração) de um radioisótopo é o tempo necessário para decair a metade da atividade inicial desse radioisótopo, que pode ocorrer em segundos ou em bilhões de anos. No caso do Flúor-18, marcador tanto da Fluorcolina quando do FLT, a meia-vida é de 109 minutos. Esse F-18 é produzido em aceleradores tipo Cíclotrons pela reação de uma água enriquecida O-18 com prótons produzidos por esse acelerador. A prioridade, segundo Regina Ribeiro Bezerra, é iniciar os estudos com hospitais e clínicas de medicina nuclear de São Paulo e regiões mais próximas
Prioridades
A Fluorcolina é específica para o diagnóstico precoce de câncer de próstata. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), esse tipo de câncer é o segundo mais comum entre os homens e, em valores absolutos, é o quarto no mundo, representando cerca de 10% do total de tumores. Devido a métodos diagnósticos mais avançados e ao aumento na expectativa de vida, o número de casos aumentou no mundo inteiro. No Brasil, não é diferente: a estimativa do INCA é de 61.200 novos casos para 2016.
O FLT, embora indicado para vários tipos de tumores, a prioridade, segundo Regina, será produzido com o objetivo de diagnosticar o câncer de mama, o mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma, respondendo por cerca de 25% dos casos novos a cada ano. O diagnóstico precoce é fundamental, pois alguns tipos evoluem de forma muito rápida. A estimativa de novos casos é de 57.960 para 2016, de acordo com o INCA.
"O Brasil ainda não tem marcadores de ponta para tumor de mama e próstata”. O IPEN, cumprindo sua missão, estabeleceu metas para atingir o objetivo proposto da produção de FLT, no qual estão envolvidos o CR e o CÍCLOTRON", afirmou a pesquisadora.
Pioneiro no Brasil
O IPEN foi pioneiro na produção de moléculas marcadas com F-18 e Ga-68, para estudos em oncologia por PET-CET, e abriu o mercado para outros centros produtores no país. O FDG 18F, ou F-18 Fluordeoxiglicose, Dotatato 68Ga (estadiamento de tumores endócrinos) e o Fluoreto 18F (estadiamento de metástase óssea) são os únicos radiofármacos de que o Brasil dispõe para ser usado em exames de imagem molecular com tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT), atualmente o método mais moderno para a detecção de tumores e outras doenças, como problemas neurológicos.
Na realidade, são duas modalidades de exames, PET e CT, que, quando realizadas juntas, permitem uma visualização muito detalhada do metabolismo e da anatomia do tumor. Desde abril de 2014, o FDG-18F passou a ser incorporado na tabela de procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) para quatro tipos de tumores: pulmão, metástase de câncer colorretal, linfoma de Hodgkin e também linfoma não Hodgkin.
Atualmente, no Brasil, há em torno de 112 aparelhos de PET-CT e 10 centros de produção capazes de produzir moléculas marcadas com Flúor-18, com uma distribuição geográfica proporcional à densidade demográfica no país.
"O compromisso do Centro de Radiofarmácia do IPEN é introduzir novos radiofármacos de modo que um número cada vez maior de pacientes possa ter acesso aos procedimentos da medicina nuclear aumentando, assim, a sobrevida e a melhoria da qualidade de vida dos mesmos", salientou o gerente do CR, Jair Mengatti (ver Pág.8).
Segundo ele, a produção da Fluorcolina e do FLT são conquistas que permitirão ampliar o número de pacientes que terão seus tumores diagnosticados precocemente aumentando o sucesso de uma terapia. "Isso reflete a importância do IPEN na saúde pública”, acrescentou.
Para o diretor de Serviços de Medicina Nuclear e PET-CT do A.C. Camargo Câncer Center, o médico Eduardo Nóbrega Pereira Lima, o IPEN tem uma contribuição essencial para a medicina nuclear no Brasil, ainda mais quando essa especialidade pode alcançar um número cada vez maior de usuários. Desde 1992 na função, ele se mostra otimista em relação aos testes.
"Como instituição oncológica, é sempre positivo ampliar as possibilidades de exames. Nós vamos usar o que já temos hoje versus a informação fornecida pelo novo, a fim de confirmar se haverá ganhos no diagnóstico. Sabemos, a priori, que sim. Então, partir daí, vamos estabelecer quando e como deve ser utilizado esse medicamento no processo de análise de pacientes com câncer de próstata, por exemplo; não todos, apenas os suspeitos de recidiva da doença.


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