terça-feira, 9 de setembro de 2014

Estudo avalia métodos investigativos da doença arterial coronária em pacientes do SUS

Foram avaliados quase 60 mil pacientes do Incor-FMUSP, mais de 65 mil procedimentos da região metropolitana de Curitiba, e mais de 450 mil procedimento da região metropolitana de São Paulo 
Com o objetivo de avaliar as condutas terapêuticas em pacientes com doença arterial coronária (DAC) da rede pública de saúde pesquisadores analisaram os procedimentos empregados no diagnóstico e tratamento invasivo em casos registrados no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a DAC é uma das principais principal causas de mortalidade no mundo. A doença ocorre quando os vasos sanguíneos que levam oxigênio para o coração se estreitam, o que pode leva-los a obstrução total. 
Denominado “Itinerário de investigação do paciente coronariano do SUS em Curitiba, São Paulo e Incor – Estudo IMPACT”, o artigo de autoria do médico baseado na tese de pós-doutorado do pesquisador do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Incor-FMUSP) e diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), Juliano Cerci, foi publicado recentemente no periódico Arq Bras Cardiol (ahead to print – acesse em PubMed)
Segundo Cerci, a investigação da DAC e seu tratamento dependem da estratificação do risco para tomada de decisão quanto a necessidade de cateterismo e revascularização. “Verificamos nessa extensa avaliação que na maior parte dos pacientes revascularizados, não foi realizada a documentação da carga de isquemia dentro do SUS. Assim os testes funcionais não invasivos, como teste de esforço e cintilografia do miocárdio são subutilizados dentro do SUS. Utilizar esses métodos de maneira apropriada pode melhorar muito a seleção dos pacientes com maior potencial de se beneficiar dos procedimentos invasivos e dos tratamentos invasivos, que representam o maior custo empenhado no SUS”, esclarece Cerci.  
Com base em um levantamento no DataSUS, prontuários eletrônicos e guias de autorização foram avaliados os itinerários de pacientes dos municípios de Curitiba (Paraná), em São Paulo (SP) e no Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Incor-FMUSP), no período de 2008 a 2010, entre os grupos submetidos ou não a testes não invasivos prévios ao cateterismo cardíaco invasivo. O impacto econômico das estratégias adotadas enquanto procedimentos - teste ergométrico, ecocardiograma de estresse, cintilografia de perfusão, cateterismo e tratamento com revascularização percutânea ou cirúrgica – também foram observadas.  
A pesquisa, que levou 36 meses de depuração dos dados, incorporou 584.221 procedimentos para avaliação cardiológica e tratamento de DAC, sendo 66.987 procedimentos provenientes da região metropolitana de Curitiba; e 457.436 em São Paulo. Do InCor-FMUSP, centro de referência nacional no atendimento de alta complexidade em procedimentos cardiovasculares, foram 59.798 pacientes. 
Como resultado verificou-se que há diferenças significativas na avaliação de pacientes com suspeita ou confirmação DAC na região metropolitana, nos três cenários. Embora os procedimentos de testes funcionais sejam os mais utilizados nos três cenários, os custos diretos empenhados para esses procedimentos diferem significativamente (6,1% em Curitiba, 20% em São Paulo e 27% no InCor-FMUSP). Os custos relacionados com os procedimentos e tratamentos invasivos representam 59,7% dos custos diretos do SUS em São Paulo e 87,2% em Curitiba. No InCor-FMUSP, apenas 24,3% dos pacientes com DAC estável submetidos à revascularização do miocárdio foram submetidos a um teste não-invasivo antes do procedimento. 
Assim, com base na pesquisa concluiu-se que, embora os testes funcionais não-invasivos sejam os mais solicitados para a avaliação de pacientes com suspeita ou confirmação de DAC, a maior parte dos custos está relacionada a procedimentos/tratamentos invasivos. Sendo que na maioria dos pacientes revascularizados, a documentação da carga isquêmica não foi realizada pelo SUS. Desta forma se verifica que existem diversas oportunidades de melhorar o sistema de forma integral, desde o acesso dos pacientes aos exames requeridos, passando pela qualidade do serviço prestado, os mecanismos de avaliação da conduta médica empregada e sua conformidade com as diretrizes de sociedades de classe.

Arq Bras Cardiol. 2014 Jul 29;0. pii: S0066-782X2014005040107. [Epub ahead of print]
*Os autores declaram não haver conflito de interesse. O presente estudo não possui fomento externo

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