O Ipen recebeu a visita do ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante no dia 14 de fevereiro. Participaram da visita os deputados federais Newton Lima (PT-SP) e Carlos Zarattini (PT-SP). O objetivo foi conhecer os projetos desenvolvidos na instituição.
Os diretores do Ipen estiverem presentes ao encontro, do qual também participou o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Odair Dias Gonçalves e o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão, Marcos Nogueira Martins. Mercadante conheceu a exposição “O Ipen e sua História” e o superintendente Nilson Dias Vieira Junior apresentou as áreas de atuação do instituto.
Durante a visita à exposição foram destacados os desenvolvimentos do programa nuclear brasileiro realizados em parceria com a Marinha do Brasil e a pós-graduação institucional, que já contabiliza mais de 1.700 títulos de mestrado e doutorado. Os vários avanços em áreas correlatas surgidos em função dos resultados de excelência obtidos pela vertente nuclear estão retratados na exposição.
E. R. Paiva
Da esquerda para a direita, Zaratini, Gonçalves, Mercadante, Lima e Vieira Junior, em frente à maquete do núcleo do reator Ipen/MB-01, do Ipen
Mercadante afirmou ser impressionante o número de teses e dissertações defendidas. “A formação de recursos humanos é um dos critérios importantes para o avanço da ciência e base para a inovação”.
O ministro mostrou particular interesse no projeto do reator multipropósito brasileiro (RMB) e na importância dos radiofármacos, elementos radioativos utilizados em diagnósticos e terapias na área de medicina nuclear. O RMB é um dos projetos de maior alcance social, relevância estratégica e econômica, que conta com a participação do Ipen em conjunto com outros institutos da CNEN.
Mercadante lembrou que a energia nuclear voltou a estar em pauta como uma grande prioridade com a questão do aquecimento global, tanto do ponto de vista do planejamento energético como do ponto de vista estratégico de ciência e tecnologia. “Temos um grande interesse nesse reator multipropósito”, afirmou.
As pesquisas na área de células a combustível, alternativa energética mais eficiente e não poluente, também foram apresentadas ao ministro, assim como o irradiador multipropósito do instituto desenvolvido com tecnologia inteiramente nacional. O irradiador permite utilizar as radiações ionizantes para diversas finalidades, como esterilizar produtos e obter melhorias em processos. É possível irradiar itens como alimentos, materiais médico-cirúrgicos e até objetos de patrimônio histórico e artístico.
Reator multipropósito
Com o novo reator será possível produzir o molibdênio, matéria-prima para o tecnécio-99m, radiofármaco essencial utilizado em 80% dos exames de diagnóstico em medicina nuclear. O diretor de projetos especiais do Ipen José Augusto Perrotta destacou que o RMB integra várias áreas nacionais de alta competência.
Além da produção de radioisótopos para medicina, o novo reator também possibilitará produzir radioisótopos voltados à indústria. Testes de desempenho de diversos materiais e de componentes de usinas nucleares poderão ser realizados na instalação, que é fruto da parceria do governo federal, por meio do MCT, com o governo do Estado de São Paulo. O reator será construído em Iperó, no interior do Estado, em uma área cedida pela Marinha e pelo governo do Estado de São Paulo.
Odair Dias Gonçalves, presidente da CNEN, ressaltou que o RMB integrará um instituto nacional à disposição de toda a comunidade científica nacional. “Trata-se de uma instalação de grande importância, em particular para a produção de radiofármacos, especialmente o gerador de tecnécio”, frisou. Ele também destacou que o RMB representará autonomia na produção dos radiofármacos e segurança no suprimento. A instalação será uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de pesquisas. “É um projeto muito bem estruturado que foi muito bem aceito”, resumiu o gestor.
A idade avançada dos reatores que produzem comercialmente o molibdênio foi um dos pontos apontados por Vieira Junior como uma oportunidade e um desafio para o país, que desenvolve o projeto de seu reator multipropósito.
Perspectivas
No que diz respeito à crise no fornecimento mundial de molibdênio, a parceria com a Argentina foi apontada como fundamental para a superação dos problemas causados pela parada em 2009 de um dos principais reatores que fornecem o insumo mundialmente, o NRU, no Canadá. A Argentina, que fabrica molibdênio para seu consumo interno, disponibilizou sua produção excedente para o país. Atualmente, o Brasil importa o produto da África do Sul e do Canadá, que voltou a fornecer o insumo este ano, e continua comprando molibdênio da Argentina.
O acordo recentemente assinado com a Argentina na área nuclear foi destacado pelo ministro como fundamental, pois intensifica a cooperação bilateral na área de engenharia nuclear. Ele acrescentou que atualmente a economia argentina está muito vinculada à economia brasileira, já que 18% das exportações da Argentina têm como destino o Brasil – o dobro do que representam as exportações argentinas para os EUA.
O ministro pontuou que estão sendo enfrentadas severas restrições orçamentárias e estão sendo estudadas algumas alterações para aliviar o orçamento do ministério, mas mantendo programas prioritários. “Os alimentos aumentaram 45% no mundo em 12 meses. Com a economia aquecida isso se propaga mais rapidamente. Teremos que fazer um esforço fiscal esse ano”, reiterou.
Após a apresentação, Mercadante recebeu representantes da associação de servidores do instituto, acompanhado pelos deputados Newton Lima e Carlos Zarattini.