sexta-feira, 3 de maio de 2013

Brasil tem urânio para abastecer usinas nucleares por mais de 800 anos

Fonte R7

Embora a matriz energética do Brasil seja fortemente baseada nas usinas hidrelétricas, seu potencial nuclear possui um valor significante. Em sétimo lugar mundial nas reservas de urânio, o País se destaca na produção do combustível para as usinas termonucleares. Ainda assim, o Brasil tem apenas duas usinas nucleares em funcionamento e uma em construção, todas em Angra dos Reis (RJ).

Ao levar em conta todas as reservas já descobertas no Brasil, há cerca de 600 mil toneladas de “yellowcake” — um pó amarelo à base de urânio que serve de matéria-prima para produzir o combustível nuclear. Com essa quantidade, é possível abastecer as usinas de Angra 1, Angra 2 e Angra 3 juntas por cerca 800 anos. Isso sem levar em conta a especulação de que o Brasil ainda tem 500 mil toneladas de "yellowcake" escondidas — nem todo território nacional foi mapeado até agora.

Hoje, apenas Angra 1 e Angra 2 estão em operação. A usina de Angra 3 ainda está em fase de construção. Cada uma delas tem o ciclo de vida de 60 anos. Durante todo esse período, cada uma precisa de 9.500 toneladas, 16 mil toneladas e 19,2 mil toneladas de yellowcake, respectivamente.

Entenda como o urânio vira combustível

No País, a única empresa a explorar e processar o urânio é a INB (Indústrias Nucleares do Brasil). Com exceção das fases do enriquecimento e da conversão do minério, que são feitas fora do Brasil, todas as demais são de responsabilidade da INB. Entenda mais do ciclo do Urânio na galeria de imagens.

Todas as fases deste processo são feitas sob normas rígidas de segurança, para evitar vazamentos de material e possíveis problemas de segurança.

A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) não autoriza o enriquecimento do urânio a níveis superiores a 5% para geração de energia elétrica e 20% para pesquisa. No País, essa regra é seguida a risca. Em níveis elevados, o urânio poderia ser usado para construção de armas. Porém, poucos países possuem este tipo de tecnologia.

Outra alternativa do uso do material nuclear para fins bélicos é reaproveitar os resíduos das usinas termonucleares. Esses materiais precisariam passar por um processo industrial para separar o urânio e o plutônio que seriam usados para a criação de armas. Isso, porém, tende a ser difícil, pois a AIEA realiza visitas de surpresa aos países signatários do TNP (Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares) e mantém um rígido controle das centrífugas pelo mundo.

Outros usos

O pesquisador do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) Adonis Saliba defende que a imagem da energia nuclear seja desligada de questões militares. Atuante na área da medicina, Saliba traça um panorama sobre os elementos radioativos que vai além de questões bélicas.

— Esses materiais também são usados para outros fins, como em pesquisas médicas, na área da saúde, da alimentação, entre outras.

Um dos usos positivos dos elementos nucleares é um líquido criado a partir de elementos radioativos, que ajuda a localizar tumores no organismo, diz o pesquisador. Esse material seria absorvido pelo tumor, o que o tornaria mais fácil de ser localizado. Esta radiação, entretanto, não é prejudicial ao organismo, pois tem pouca duração.

A radiação também pode ser usada, por exemplo, para matar micro-organismos em frutas. Ao se "bombardear" os vegetais, os micróbios ou outros seres vivos morrem.

O nível de segurança em torno deste tipo de material radioativo é tamanho que, no País, há aproximadamente 20 gramas de plutônio, lembra Saliba. Ele é monitorado constantemente pela própria AIEA.

Polêmicas

Materiais radioativos e questões atômicas sempre levantam polêmica. No Brasil, o programa nuclear é declaradamente pacífico. Em 2004, porém, o País deixou dúvidas sobre suas intenções, quando autoridades brasileiras negaram acesso de fiscais da AIEA à centrífuga que enriquece o urânio.

Esse equipamento é capaz de produzir tanto o material para as usinas termonucleares quanto substrato para armas atômicas. O governo, à época, alegou questão de sigilo e segurança. Anos depois, fiscais da agência tiveram acesso irrestrito à fábrica da INB.

Em 2010, o Brasil se posicionou a favor do programa nuclear do Irã, atacado por grandes potências. Países como os Estados Unidos questionaram a validade do país do Oriente Médio, relatando a possibilidade de criação de uma arma atômica por parte deste.

Após meses de debates tensos, o Irã assinou um acordo mediado pelo Brasil e pela Turquia, que determinava que o urânio fosse enriquecido em outro país. Com isso, a suspeita de criação de uma possível bomba ou míssil nuclear foi dizimada.

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