segunda-feira, 26 de abril de 2010

Construção de reator essencial para medicina nuclear pode sofrer atraso - Fonte Nuclear

11 de Fevereiro de 2010


Fonte: Fonte Nuclear 

A construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), tido como solução a longo prazo para o fornecimento de radioisótopos no país, deve sofrer atrasos. O RMB não consta do orçamento de 2010 da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), responsável pelo projeto, e ainda não há uma fonte de recursos definida para sua implementação. A indefinição acontece em um momento delicado, em que o Brasil vive os efeitos de uma crise mundial da produção de molibdênio-99, radioisótopo que gera, por decaimento, o tecnécio-99. Este, por sua vez, é utilizado em mais de 90% de todos os exames de medicina nuclear. Desde maio de 2009, o país vem tendo dificuldades em obter o material no mercado internacional. 

No ano passado, foi iniciada a concepção do projeto do RMB. Para dar continuidade às atividades, são necessários R$ 55 milhões, que serão utilizados para realizar experimentos em laboratório, contratar serviços de engenharia para se fazer os projetos básico e de infraestrutura do sítio do reator e começar o processo de licenciamento ambiental. Mas o ideal seria a disponibilização de R$ 100 milhões, de forma a contratar também o serviço de preparação do projeto de detalhamento. 

O custo do RMB, que terá entre 20 e 30 megawatts de potência, está estimado em US$ 500 milhões, e a expectativa é de que demore seis anos para ficar pronto. O reator será construído em Iperó, a 130 quilômetros de São Paulo, ao lado do Centro Experimental de Aramar, da Marinha, que cedeu um terreno de 1,2 milhões de metros quadrados à Cnen. O governo do estado de São Paulo também cederá um terreno adjacente. Para abrigar o reator, a Cnen criará um novo instituto de pesquisas. 

O presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves, afirma que o Ministério da Ciência e Tecnologia está empenhado em conseguir recursos para que o projeto não atrase. Ele diz que uma das alternativas que está sendo tentada é a inclusão do RMB na segunda edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), que deve ser lançada pelo governo federal em março. Outra opção seria buscar financiamento junto ao BNDES. 

O Brasil também negocia com Peru e Argentina a criação de uma empresa trinacional para a produção de molibdênio-99. Existe um reator peruano, construído pelos argentinos, que tem capacidade ociosa e pode ser preparado para começar a produzir o radioisótopo em um ano em meio. Até lá, o país continuaria dependendo das inconstâncias do mercado mundial. A iniciativa atenderia à demanda brasileira enquanto o RMB não ficasse pronto. 

A crise teve início quando o reator canadense National Research Universal(NRU) – responsável por quase 40% da produção mundial do radioisótopo e por toda a demanda brasileira – parou de operar por problemas técnicos. Outros reatores dedicados à produção de molibdênio-99 também vêm apresentando problemas, o que tem piorado a situação. Para contorná-la, o Brasil foi obrigado a buscar outros fornecedores, principalmente a Argentina. Mas essa tem sido uma tarefa inglória, pois, como o problema é mundial, a procura pelo radioisótopo é muito maior do que a oferta. 

A construção do RMB seria a solução definitiva para a crise, pois tornaria o Brasil autossuficiente na produção do molibdênio-99, que, hoje, é 100% importado e distribuído para todo o território nacional pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), ligado à Cnen. Mas o alcance do projeto é bem maior. “O RMB permitirá nacionalizar todos os radioisótopos produzidos em reatores que são importados pelo país. E não apenas aqueles usados para diagnóstico, mas também os que são empregados em radioterapia”, diz o coordenador técnico da implantação do reator, José Augusto Perrotta. 

Além de produzir radioisótopos, o RMB também será utilizado para a realização de testes de irradiação de materiais e combustíveis e pesquisas com feixes de nêutrons. “Um projeto desse porte permitirá o desenvolvimento de uma infraestrutura científica e tecnológica para dar suporte à expansão do Programa Nuclear Brasileiro”, frisa Perrotta, acrescentando que o reator também será importante para a formação de recursos humanos no setor. 

Garantia de produção nacional 

De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Biologia, Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBBMN), José Soares Júnior, o reator multipropósito precisa ser prioritário na agenda do governo federal. “Há uma necessidade urgente de se liberar recursos para o RMB. Ele é essencial para a medicina nuclear brasileira, pois garantirá a produção nacional de molibdênio-99. A crise atual deixou claro que não podemos depender de fornecedores externos”, ressalta. 

O médico afirma que o atraso na implantação do reator seria ruim, especialmente ao se levar em conta a gravidade da crise, mas não é o mais preocupante. “Meu maior receio é de que o projeto caia no esquecimento e acabe ficando apenas no papel. Temos que aproveitar a oportunidade política que a crise está trazendo para construir o RMB. 
Além disso, ele não será construído de uma hora para outra. Daí a necessidade de se começar logo”, comenta Soares Júnior. 
Ele acrescenta que o RMB dará a sustentação necessária para que a medicina nuclear brasileira possa crescer. “Com a produção do RMB, os serviços médicos poderão investir em equipamentos e recursos humanos sem receio de faltar material”, analisa. 

Por ano, são realizados no país cerca de 3,5 milhões de procedimentos de medicina nuclear envolvendo o uso de radioisótopos. Mas o consumo per capita brasileiro ainda é baixo. Isso se reflete na oferta de exames nas diferentes regiões do país. O atendimento hoje está concentrado no Sudeste e no Sul. “A medicina nuclear cresceu muito no Brasil nos últimos anos, mas é preciso que cresça ainda mais. Existem lugares no país, especialmente na região Norte, que ainda não têm acesso a exames essenciais. Precisamos torná-los disponíveis para toda a população”, destaca Soares Júnior.

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